segunda-feira, 11 de julho de 2016

O que é o Hedge Cambial?

Verifiquei que alguns leitores estão a comprometer as suas carteiras devido ao facto de não saberem o que é o Hedge Cambial. Infelizmente, ao diversificarmos os nossos investimentos estamos a proteger de perdas mas, ao mesmo tempo, poderemos estar a aumentar o risco na nossa carteira.

O Hedge é uma palavra inglesa que se pode traduzir para Cobertura. O Hedge Cambial (ou cobertura cambial) é, nada mais nada menos, do que a protecção face a outras moedas. Ao investirmos em acções ou sectores norte-americanos, temos de nos proteger face à variação do USD contra o Euro. Se residem no Reino Unido e investem em países da moeda única, então precisam de se proteger da variação entre a libra e o euro. Efetivamente o conceito é este.

Vamos então para um exemplo mais prático. Imaginem que, em 2013 investimos 1000€ na coca-cola, uma empresa cotada na bolsa norte americana. De forma a simplificar o esquema, assumimos que 1000€ é igual a 1000USD, Mantemos esse investimento até 2015, quando queremos vender as acções. O gráfico de valorização é o seguinte:
 
Em 3 anos, os 1000USD valorizaram para 1380USD, mas em Euros isso traduz-se em quê?
Nesses mesmos 3 anos, a valorização do USD/EUR foi negativa, ou seja, o dólar valorizou-se face ao euro. Essa valorização significa que o nosso investimento na coca-cola já não traz um rendimento de 1380€, mas sim menos.
O cálculo foi feito de modo a que a perda cambial seja de 380€ ou seja, o nosso investimento gerou um retorno de 0% ou 0€ (se não contarmos com a inflação nestes três anos).

Este exemplo foi o ideal para demonstrar o risco de investir noutras moedas, assim como a importância de fazermos uma protecção cambial aos nossos investimentos.
Quando investimos diretamente em acções ou obrigações é mais difícil sermos nós próprios a fazer essa cobertura cambial, mas no caso de fundos de investimento já é muito mais simples.
 
Existem fundos de investimento que já têm o hedge cambial incluído na compra. Ao investirmos num determinado país ou setor, estamos também protegidos face à volatilidade cambial que esses investimentos podem ter. Como a imagem mostra, esse tipo de fundos de investimento podem ser filtrados numa pesquisa simples.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Curiosidades sobre as nossas Poupanças

Hoje inicio uma nova rúbrica sobre o investimento mais importante que temos, o investimento para a nossa reforma.
Antes de entrar num tema bastante complicado e aborrecido, começo por curiosidades sobre as nossas poupanças. Neste artigos vamos, então, analisar os benefícios de reforçar os nossos investimentos, a diferença entre os valores a reforçar e, o mais importante de tudo, a diferença que faz entre um investimento passivo e um investimento ativo.

Pressupostos

Durante a nossa vida encontramos fases em que é bastante difícil poupar. Comprar carro, ter filhos, comprar uma casa e casar são fases importantes da nossa vida. Já para os investimentos não são tão bons, já que não ajudam a constituir um bom pé de meia para a nossa reforma.
Mas isso não é impedimento de nada. É neste artigo que vemos como é fácil poupar e chegar a um bom pé de meia.
Assim sendo, assumimos que a pessoa vai começar a poupar aos 30 anos, com 1000€ e, 30 anos mais tarde (aos 60 anos) veremos os resultados que apenas 1000€ podem fazer.
Vamos assumir que o seu investimento terá um rendimento de 10% ao ano. É verdade que nalguns anos é possível perder dinheiro mas, ao observarmos o investimento no seu todo, o rendimento anualizado é de 10%.

Reforçar o Investimento vs. Não Reforçar

Reforçar os nossos investimentos é fundamental para o sucesso da nossa carteira, no longo prazo. Ao reforçarmos estamos a colocar mais capital na nossa carteira, aumentando a nossa valorização e, assim, o nosso valor final. O gráfico abaixo elucida a diferença entre reforçar e não reforçar.



Basta observar o gráfico para se notar uma enorme diferença. Durante 30 anos estes foram os resultados de reforçar 100€ ao fim de cada ano:
Com Reforço: 35543,74€
Sem Reforço: 19194,34€
Diferença: 16349,40€

De forma resumida, em 30 anos poupar 100€ por ano e reforçar o nosso investimento quase que duplica o valor final. É muito interessante ver o que uma centena de euros faz ao longo de tanto tempo.

Qual é o Valor a Reforçar?

Uma vez que já observámos os benefícios de reforçar a nossa carteira, vamos aumentar um pouco a complexidade do reforço. Desta vez vamos imaginar que conseguimos poupar, por ano, 200€. Desta vez estamos a poupar o dobro e, em contrapartida, apenas vamos poupar essa quantia nos primeiros 15 anos. Os outros Dos 45 aos 60 anos não vamos poupar nada, gastando todo o salário que ganhámos.


 A reta azul mantém-se com o reforço de 100€ durante os 30 anos, enquanto que a reta verde é a situação explicada em cima. Vamos ao valor final:
Com reforço de 100€: 35543,74€
Com reforço de 200€ nos primeiros 15 anos: 45738,65€
Diferença: 10194,91€

O valor a reforçar é tão importante como o ato de reforçar os investimentos. Só o facto de reforçarmos o dobro no inicio do nosso investimento traduz-se em mais de 10000€ no final do nosso investimento.

Investimento Passivo vs. Investimento Ativo

Quem costuma ler o meu blogue sabe que estou sempre a reforçar a diferença entre dois tipos de investimento. O investimento ativo, que quase todos conhecemos, e o investimento passivo, que poucos conhecem. O investimento ativo (ex: Fundos de investimento) é um tipo de investimento em que os gestores tentam bater o mercado em que competem. Já o investimento passivo (vulgos ETF's ou investimento direto em ações) segue apenas as tendências do mercado. O investimento ativo, por ser um investimento que tenta bater o mercado, cobra comissões de gestão sobre os ganhos ou perdas (2% ou 3% e alguns casos que chega aos 5%). Para este caso, a comissão de gestão será de 2% sobre o rendimento). Assim sendo, este gráfico mostra a diferença entre os dois investimentos.
No longo prazo é certo e sabido que um gestor ativo não consegue bater o mercado, o que se traduz numa perda para os investidores. Ainda assim, vamos assumir que um gestor ativo consegue igualar o mercado que tenta bater. Assim sendo, o investimento ativo terá um rendimento de 10% (o mesmo que a % de rendimentos em cima) e o investimento passivo terá um rendimento de 12% (esse rendimento corresponde ao rendimento que o mercado teve, mas sem uma comissão de gestão de 2%).

Este ganho de 2% traduz-se em:
Investimento Ativo: 35543,74€
Investimento Passivo: 57688,38€
Diferença: 22144,64€

Os instrumentos financeiros utilizados assumem uma posição dominante no valor final da carteira de investimento. A diferença de 2% ao longo de 30 anos causam uma diferença de mais de 22000€.

Nota Final

Espero que este artigo vos tenha elucidado sobre o tema aborrecido, mas importante, que é a nossa poupança para a reforma. Com os dados deste artigo é garantido que melhorem a eficiência do vosso portefólio.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Raize: Uma revolução nos Empréstimos P2B

Hoje apresento aos meus leitores a Raize.


Esta plataforma de investimentos existe desde 2014 e começou a ficar conhecida depois de ter sido finalista no prémio de inovação da NOS em 2015. Este não foi o único prémio ganho por esta plataforma, tendo conseguido vencer o prémio de Start-Up do ano, entregue pela ACEPI - Associação da Economia Digital em Setembro de 2015.

Antes de falarmos sobre a plataforma em si, temos de ter em conta a posição dos bancos no financiamento das empresas.  Cerca de 40% das PME's (Pequenas e Médias Empresas) financiam-se junto dos bancos com montantes inferiores a 20.000€. Os bancos vão buscar estes montantes aos depósitos a prazo e outros produtos de baixo risco, depositados pelos clientes. Efectivamente os depositantes do banco recebem cerca de 1,5% do valor depositado (o que, às vezes, nem chega para a inflação) e o banco cobra às empresas cerca de 10%. O banco ganha a diferença entre os dois empréstimos. O problema começa com os bancos a cortarem estes financiamentos, colocando as empresas mais limitadas para se financiarem.

É aqui que a Raize entra. Esta plataforma de empréstimos P2B (Person to Business) é uma revolução em Portugal cortando o intermediário (o banco). Assim, as empresas financiam-se a uma taxa mais baixa e os depositantes ganham um montante superior. Do lado das empresas, apenas é necessário que as mesmas não tenham dividas ao fisco. A Raize torna-se, assim, na 1ª bolsa de empréstimos coletivos em Portugal.



Observando as estatísticas do website, podemos observar que existem cerca de 4300 membros a financiarem as empresas. a TANB (Taxa Anual Nominal Bruta) média é de 6,3% e o montante já financiado ultrapassa 1.500.000€.

A plataforma apresenta uma TANB sugerida em cada empréstimo, sendo esta taxa calculada de acordo com o balanço, a demonstração de resultados e a duração do empréstimo. Os utilizadores também podem ver o relatório completo da empresa dos últimos três anos, assim como o histórico de empréstimos passados desta empresa na plataforma.

Desde Outubro de 2015 que invisto nesta plataforma. Tenho atualmente 15 empréstimos a empresas do continente e ilhas, e posso dizer que me encontro bastante satisfeito. Já houve situações de empresas que demoraram a pagar uma determinada prestação, mas foi caso único e ficou solucionado em poucos dias.

O mercado encontra-se estagnado para os investimentos, e é nestas alturas que um investidor pensa em investimentos alternativos aos depósitos a prazo. Não me sinto ganancioso para investir em empresas de maior risco (risco C), portanto a minha taxa de juro média ronda os 5% de TANB.

Não se esqueçam de diversificar o vosso investimento. O valor mínimo a investir em cada empresa são 20€ e, para quem tem pouco capital, sugiro diversificar para que, se uma empresa deixar de pagar, as outras compensam esse prejuízo potencial.

Recordo também que aqui não existe capitalização dos juros. Todos os meses recebemos uma prestação e, na minha opinião, o certo é colocar esse juro noutro empréstimo a outra empresa, de forma a produzir juro de juro, aumentando os nossos ganhos.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Companhias Aéreas: Quanto Pagam por Combustível?

O ano de 2015 ficou marcado pela descida abrupta dos preços dos combustíveis.



Nos mercados internacionais, os combustíveis caíram de $110 o barril para $50. Uma queda de 50% no preço dos combustíveis. Para nós, que utilizamos os combustíveis no nosso dia a dia, não acumulamos stock desta matéria-prima, mas o mesmo já não se pode dizer das companhias aéreas.

Existem inúmeras companhias aéreas a operar no mercado europeu. As low-cost, como a Ryanair e a EasyJet, e outras como a Tap, a British Airways e a Air France. Estas companhias aéreas têm um desafio pela frente, que passa por colocar um preço de um bilhete futuro sem saber o preço dos combustíveis nesse mesmo futuro.

Algumas companhias aéreas escolhem os futuros como o instrumento financeiro ideal para se precaverem desta variação dos preços dos combustíveis. Como sabem, os futuros permitem que a pessoa compre hoje um ativo que efetivamente irá transaccionar no futuro. Esse ativo tem um preço teórico e é sobre ele que as companhias aéreas muitas vezes se baseiam ao colocar o preço no bilhete. A companhia aérea compra um contrato futuro para se salvaguardar das variações positivas no preço do combustível e, depois, poderá liquidar esse contrato na data do bilhete, garantindo um ganho (caso o preço do combustível seja superior).

No entanto, este resultado pode ter consequências catastróficas, como foi em 2015.
Por exemplo, o CEO da Delta Ed Bastian admitiu à Bloomberg:
“We’ve lost over the last eight years about $4 billion cumulatively on oil hedges”
Infelizmente estas perdas refletem-se nos preços dos bilhetes, imputado esta perda para os clientes. Ainda assim, os dados relativos à quantidade de petróleo que é protegida num contrato de futuro é privada e difere de companhia para companhia. São muitas as empresas a operar no mercado e cada uma tem a sua estratégia, sendo que essa estratégia é um espelho do pensamento dos gestores dos ativos e matérias primas da empresa.

No entanto, companhias como a Delta estão a ser forçadas a aumentar os preços dos bilhetes para manterem os lucros, enquanto que outras companhias como a Ryanair aumentaram os seus lucros graças à diminuição dos preços dos combustíveis.

Vejam aqui os preços atualizados dos combustíveis nos mercados internacionais: http://www.nasdaq.com/markets/crude-oil.aspx?timeframe=3y