quinta-feira, 13 de julho de 2017

Análise à Raize

Depois de comemorar dois anos a investir com a Raize decidi fazer uma análise mais aprofundada ao modelo de negócio da Raize, assim como referir algumas particularidades interessantes no modelo de negócio. Para chegar a todos os valores e cálculos irei utilizar o ficheiro excel com todas as estatísticas relativamente a todos os empréstimo na Raize, disponível aqui.

Como é que a Raize faz dinheiro?

A pergunta é muito interessante. Dado que os investidores não têm nenhum custo e estamos a eliminar o banco (intermediário), como é que a Raize ganha dinheiro?
Ora, através do ponto 16 das condições Gerais, a Raize cobra 3% por todos os empréstimos financiados na plataforma.
De Dezembro de 2014 a Maio de 2017 a Raize já ganhou 178.530€ a cobrar essa comissão.

O que significa risco A, B ou C+?


Existem 6 bandas de risco na Raize. Um empréstimo com risco a tem muito mais probabilidade de sucesso que uma empresa de risco C. Riscos mais elevados comportam rendimentos mais elevados, mas mesmo assim é necessário adotar uma estratégia de diversificação para minimizar as possíveis perdas de capital.

E se a empresa quiser pagar tudo antes do fim do empréstimo?

O reembolso antecipado é uma possibilidade. Todos os contratos de mútuo tem essa possibilidade prevista. Caso isso aconteça, a empresa tem de pagar aos investidores 20% dos juros futuros que o investidor iria receber.

Os relatórios das empresas estão sempre corretos?

Nem sempre. É preciso saber contabilidade para detectar alguns erros graves. Como sabemos, as empresas tentam sempre fugir ao fisco e às vezes até declaram despesas acima do previsto. Apesar da realidade nos casos em baixo não ser essa, falta algumas informações para chegarmos a alguma resposta concreta.
Chegamos a um primeiro caso. Este balanço não está feito da forma mais correta. Podemos observar que pode ter havido um engano ao contabilizar os ativos, uma vez que existe um valor negativo em equipamento biológico e o mesmo valor positivo em outros ativos fixos tangíveis. Para além disso, apesar do resultado líquido do período apresentar valores positivos, os resultados transitados (para onde vai os valores do resultado líquido do período + reservas) não apresenta os valores mais transparentes. Seria preciso averiguar para saber concretamente a que se deve esta discrepância. 

Mais uma vez este balanço está com erros graves. Não existem depreciações dos ativos fixos. Parece que a empresa está a depreciar o ativo pelo valor bruto (não sabendo bem que movimento contabilístico é este) e não contabiliza as depreciações. Para além disso, o resultado líquido é outra vez positivo mas os resultados transitados apresenta discrepâncias.

Chegamos a mais erros graves de contabilidade. Esta empresa não está a depreciar o equipamento básico e está a depreciar a mais o equipamento administrativo e outros AFT. Ora bem, não é preciso alongar-me muito neste tema, mas quando fazemos uma depreciação estamos a retirar valor ao que temos. Como é óbvio o limite é 0 e não podemos dizer que algo que temos vale -449€, por exemplo.

A taxa de juro é real?

Existe uma diferença entre a taxa de juro bruta e real, dado que pagamos 28% de imposto sobre os juros. Mas, assumindo que a taxa de juro bruta é igual à taxa de juro real, mesmo assim esta percentagem não corresponde à realidade. A Raize utiliza um sistema de pagamentos igual ao dos bancos. Basicamente cada prestação tem uma percentagem de amortização de capital e outra percentagem de juros. Ao inicio pagamos mais juro pois temos mais capital para amortizar mas depois os juros vão baixando de percentagem (como podem observar pela tabela em cima). Ora, como existe pagamento do montante em dívida, esse montante pago deixa de estar abrangido pela taxa de juro que temos no empréstimo. Para termos uma taxa de juro igual à que está no contrato temos de continuar a investir esse capital que já foi pago.
Para além disso a taxa de juro acordada não contabiliza o tempo em que o nosso capital fica retido para o empréstimo e a data em que ele efetivamente começa.

E se a empresa não pagar a tempo?

Supostamente a Raize dá 3 meses para que a empresa pague o montante em dívida. Passado esse tempo supostamente a empresa entra em incumprimento definitivo. Isso está no contrato mas sei, através da minha própria conta, que a Raize não cumpre com esta condição.
Por exemplo, a Pneus União está neste momento com 6 prestações em atraso. Já passou o dobro do tempo que a Raize dá no contrato, mas mesmo assim a Raize não está a colocar este empréstimo em recuperação.
O ponto 16 das condições gerais da Raize refere ainda: "A RAIZE cobrará a Empresas com pagamentos em atraso uma comissão de 50 € por semana por prestação em atraso por esforços relacionados com a recuperação de prestações em atraso, às quais poderão acrescer outras despesas e honorários tal como previsto no contrato de mútuo."
Infelizmente este valor rapidamente se acumula. Se a comissão de 50€ é por prestação E por semana, é mais barato ficar em incumprimento com o banco do que com a Raize.

Quem me representa quando as coisas correm mal?

O ponto 15 das condições gerais indica que:
O Investidor declara expressamente que consente que a RAIZE atue em sua representação no âmbito do cumprimento dos contratos de mútuo que este venha a celebrar através da Plataforma RAIZE, incluindo em eventuais procedimentos de restruturação ou procedimentos judiciais e/ou extrajudiciais de recuperação de créditos, tais como acordos de restruturação ou em Assembleias de Credores de Empresas em Insolvência ou Situação de Insolvência. (...) O Investidor terá 5 dias para impedir esta cessão de posição, caso decida prosseguir com o processo judicial pessoalmente e separadamente.
Ou seja, por norma é a Raize que representa o investidor, a não ser que o investidor queira fazer esse processo separadamente, pelo que terá de referir isso à Raize num prazo de 5 dias.

Notas Finais

Acima de tudo, o investidor tem de saber que emprestar a empresas pode resultar em perdas no capital investido. A Raize continua com muitas arestas por limar e esperemos que, com a continuação da plataforma, estas arestas sejam limadas.