sexta-feira, 22 de julho de 2016

O que são Correlações?

Hoje o texto que vos escrevo é relativo à segunda parte da diversificação da nossa carteira. Podem ler o primeiro artigo aqui.

Esta parte é um tema mais difícil, mas fundamental para efectuarmos uma correcta diversificação dos nossos investimentos. Então cá vai.
É muito raro ouvirmos falar em correlações. Por norma observamos esse indicador nos depósitos indexados do banco invest, como o exemplo na imagem em baixo.

A correlação mede a o comportamento entre duas acções. Caso duas acções tenham movimentos semelhantes, o indicador vai apresentar um valor mais próximo de 1 do que no caso de duas acções completamente diferentes. Nos casos extremos, 1 indica que duas acções têm comportamentos iguais e -1 indica que duas acções têm comportamentos opostos. Para ser mais fácil entender este conceitos, vamos indicar três exemplos que ilustram do melhor modo este fenómeno.

Correlação superior a 0,3

No exemplo em cima temos duas acções, A e B. A evolução nos primeiros 7 meses do ano destas duas acções apesenta uma correlação de 0,94. Esta correlação é tão alta pois, como podemos observar pelo gráfico, as duas acções têm evoluções e amplitudes muito semelhantes (quase iguais). Assim sendo, não é de todo aconselhado diversificar, dado que estamos quase a investir na mesma acção. É possível encontrar correlações destas entre duas acções do mesmo sector, do mesmo país, ou que pertençam à mesma empresa.

Correlação entre -0,3 e 0,3

Nesta situação, as acções X e Y apresentam uma correlação de 0,06. Como podemos observar pelo gráfico, não existe uma tendência definida entre estas duas acções. O ideal é diversificar em acções com uma correlação inferior a 0,3. Tendo em conta que as acções têm um comportamento semelhante em menos de 30% das vezes, quando um setor está abaixo da tendência do mercado, o outro sector não é influenciado por esse mau desempenho.

Correlação inferior a -0,3

Nesta correlação podemos ver duas acções, L e M, com uma correlação negativa perto de 1. Esta correlação negativa indica que, quando uma acção sobe X%, a outra desce na mesma amplitude. quase 90% das vezes.
Como exemplo de dois produtos inversamente semelhante temos o S&P500 e o Ouro. Quando os investidores têm uma maior apetência pelo risco, verificamos um movimento positivo no S&P e, quando se sentem com receio em relação ao mercado, optam pelo Ouro,
Para os investidores com uma aversão ao risco, é viável optar por uma diversificação que, num caso raro em que vários sectores revelam perdas, a carteira apresenta sempre uma evolução positiva. 

Notas Finais

É necessário consultar a correlações com uma certa frequência, a correlação depende do período em análise e pode sofrer fortes alterações com o tempo. Também é necessário verificar se a carteira de investimento está a ter o desempenho desejado.
Nos casos em que as carteiras apresentam uma evolução abaixo da média, convém verificar se não estamos com sobre exposição a um dado sector ou a um dado país.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Como diversificar os nossos investimentos

A diversificação é um dos factores mais importantes para garantir a maior eficiência da nossa carteira. Como existem sempre algumas dúvidas sobre esse assunto, hoje faço uma ligeira introdução ao tema.

Exemplo

Imaginemos que temos uma acção B que queremos investir. Essa acção é de um sector que queremos ter na nossa carteira. Tem um rendimento bastante interessante, mas também tem um risco equivalente. Apresentamos em baixo o gráfico de rendibilidade e risco.

De forma a não passarmos de um rendimento de 2% para uma perda de 5%, é necessário diminuir o risco investindo noutra acção desse mesmo sector, mas com menos volatilidade. Chamemos a essa acção A. A rendibilidade de A e a volatilidade estão na tabela em baixo.
 A volatilidade é metade da acção anterior, mas ainda assim temos alguns períodos negativos. Os períodos positivos revelam uma acção com menos risco, mas também revela menos rendimento para os seus investidores. Ainda assim, esta acção é fundamental para garantir uma boa eficiência nesta carteira composta por duas acções. Em baixo é apresentado a diversificação entre as duas acções, admitindo que este investidor investiu colocou o mesmo capital nas duas acções.
 É evidente que a acção A prejudica a nossa carteira, em relação aos rendimentos positivos, mas beneficia a carteira em períodos negativos. Não podemos ser gananciosos e querer ganhar o máximo, deveremos sim querer ganhar o suficiente para o risco que estamos a assumir (ser eficientes), como se pode ver nesta carteira. A volatilidade da nossa carteira está a uns estáveis 2,80%, ao mesmo tempo que a rendibilidade foi estabilizada.
No gráfico em baixo temos a rendibilidade das duas acções em cima. A linha amarela representa a rendibilidade ao diversificarmos, em detrimento de termos apenas uma das acções na nossa carteira.
Acima de tudo, diversificar traz vantagens, mas também desvantagens. Vamos verificar então os dois espectros da diversificação.

Vantagens

  • Diminui o risco da nossa carteira;
  • Previne a perda de capital caso uma das empresas esteja com dificuldades: A Apple tem estado com problemas relativamente a terem falhado as expectativas dos analistas. Com a diversificação teríamos uma perda menor dado que teríamos mais empresas do setor na carteira;
  • Permite estabilizar a rendibilidade global da nossa carteira;
  • Dá mais valias proporcionais aos diferentes sectores de mercado;
  • Facilidade de diversificação com baixo capital: Os ETF's e os fundos de investimento são ideais para diversificarmos os nossos investimentos;
  • Permite ajustar a agressividade do portefólio: Podemos definir uma percentagem para ajustar a agressividade do portefólio. Portefólios mais agressivos colocam mais capital em acções mais arriscadas.

Desvantagens

  • É necessário equilibrar o portefólio: A cada ano que passa, dado que uma acção dá mais rendibilidade que outra, teremos de vender algumas acções de uma delas para manter a percentagem de investimento em cada uma;
  • Alguma perda de rendibilidade: Dado que diversificamos, as acções com mais rendibilidade vão ser diluidas por acções com menos rendibilidade;
  • Custos de transacção: No caso em que o investimento seja em acções diretas, a cada acção que colocamos na carteira estamos a aumentar os custos de transacção. É, por isso, ideal diversificar através de fundos de investimento ou ETF's.

Notas Finais

Pudemos observar que a diversificação é um tema crucial para o bom desempenho dos nossos investimentos. Uma diversificação deficiente poderá comprometer ganhos futuros e, inclusive, significar perda de capital. Assim, é fundamental diversificarmos através de um conjunto de acções, de setores ou de países, para garantir o sucesso dos nossos investimentos.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

O que fazer com Baixas Taxas de Juro?

As baixas taxas de juro são bastante positivas, ou negativas, dependendo do lado em que estamos.
Para quem antecipa consumo futuro através de um empréstimo bancário (seja habitação, automóvel ou pessoal) tem uma taxa de juro (Euribor) e um spread associado, pagando juros pelo empréstimo. Quem poupa dinheiro para consumo futuro recebe juros que podem ajudar a combater a inflação.

Mas, o que é a Taxa Euribor?

A taxa euribor é conhecida por muitos Portugueses. Esta taxa de juro é a taxa de referência nos empréstimos pessoais e empréstimos à habitação. Dependendo do modo como é revista, a prestação que pagamos está dependente desta taxa.
Assim sendo, nos últimos meses assistimos a uma descida acentuada desta taxa. A descida foi tão grande que está atualmente negativa.
A tabela da taxa euribor nos vários períodos é atualmente esta. De acordo com as políticas monetárias do Banco Central Europeu poderemos vir a assistir valores negativos nas taxas de juro durante os próximos meses ou anos.

Porque coloca o BCE taxas negativas na Euribor?

A taxa Euribor serve apenas para uma coisa, controlar o nível de inflação de um grupo de países. No caso dos países da zona Euro, o BCE gosta de manter a inflação em níveis perto dos 2%. Quando a inflação é superior aumenta a taxa de juro e, quando é inferior diminui a taxa de juro.
Essas variações geram períodos de investimento quando a taxa Euribor está baixa e geram períodos de poupança quando a taxa Euribor está alta. A taxa Euribor faz variar a taxa dos depósitos a prazo nos bancos, considerados depósitos sem risco, na mesma proporção que a variação na taxa euribor. Por exemplo, hoje em dia vemos que os bancos têm taxas de juro quase iguais a 0% TANB, quando em ano anteriores tínhamos 2% ou 3%.
Imaginando que somos um investidor e queremos abrir um novo negócio. No plano de negócios verificamos que esse negócio gera um retorno de 5% ao ano. Nesse mesmo ano os bancos tinham depósitos a prazo com uma TANB de 5% por 2 anos. Neste caso é melhor para o investidor aplicar esse valor num depósito a prazo, dado que obtém o mesmo rendimento e, neste caso, é uma taxa garantida sem qualquer risco.

Onde Investir com baixas taxas de juro?

A situação em cima não é o que acontece neste ano (2016). Com os depósitos a prazo a apresentarem taxas perto dos 0% TANB, o investimento é largamente fomentado. Hoje em dia os bancos incentivam os empreendedores e investidores a pedirem empréstimos (pagando juros quase nulos) para investir no mercado, e aumentar a inflação.
Para os investidores de fundos de investimento, acções e obrigações, infelizmente a situação não é melhor. As empresas beneficiam das baixas taxas de juro, mas neste momento as acções estão a ser negociadas com múltiplos de lucros demasiado elevados. As obrigações são quase inexistentes e, quando existem, são a uma taxa mais baixa. A realidade é que as empresas beneficiam das baixas taxas de juro como os particulares, pelo que não necessitam de obrigações para se financiarem.
A realidade é que os investimento comuns estão a ter um rendimento mais baixo do que era espectável. Sejam acções, obrigações, metais preciosos, o triste desafio é revelado quando os investidores vão ser premiados com um rendimento inferior, com o mesmo risco.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

O que é o Hedge Cambial?

Verifiquei que alguns leitores estão a comprometer as suas carteiras devido ao facto de não saberem o que é o Hedge Cambial. Infelizmente, ao diversificarmos os nossos investimentos estamos a proteger de perdas mas, ao mesmo tempo, poderemos estar a aumentar o risco na nossa carteira.

O Hedge é uma palavra inglesa que se pode traduzir para Cobertura. O Hedge Cambial (ou cobertura cambial) é, nada mais nada menos, do que a protecção face a outras moedas. Ao investirmos em acções ou sectores norte-americanos, temos de nos proteger face à variação do USD contra o Euro. Se residem no Reino Unido e investem em países da moeda única, então precisam de se proteger da variação entre a libra e o euro. Efetivamente o conceito é este.

Vamos então para um exemplo mais prático. Imaginem que, em 2013 investimos 1000€ na coca-cola, uma empresa cotada na bolsa norte americana. De forma a simplificar o esquema, assumimos que 1000€ é igual a 1000USD, Mantemos esse investimento até 2015, quando queremos vender as acções. O gráfico de valorização é o seguinte:
 
Em 3 anos, os 1000USD valorizaram para 1380USD, mas em Euros isso traduz-se em quê?
Nesses mesmos 3 anos, a valorização do USD/EUR foi negativa, ou seja, o dólar valorizou-se face ao euro. Essa valorização significa que o nosso investimento na coca-cola já não traz um rendimento de 1380€, mas sim menos.
O cálculo foi feito de modo a que a perda cambial seja de 380€ ou seja, o nosso investimento gerou um retorno de 0% ou 0€ (se não contarmos com a inflação nestes três anos).

Este exemplo foi o ideal para demonstrar o risco de investir noutras moedas, assim como a importância de fazermos uma protecção cambial aos nossos investimentos.
Quando investimos diretamente em acções ou obrigações é mais difícil sermos nós próprios a fazer essa cobertura cambial, mas no caso de fundos de investimento já é muito mais simples.
 
Existem fundos de investimento que já têm o hedge cambial incluído na compra. Ao investirmos num determinado país ou setor, estamos também protegidos face à volatilidade cambial que esses investimentos podem ter. Como a imagem mostra, esse tipo de fundos de investimento podem ser filtrados numa pesquisa simples.