quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Como Ler Notícias Financeiras

Tinha aqui guardado um artigo do CFA Institute que eu vos gostaria de falar. Hoje venho dar-vos algumas dicas de como ler notícias financeiras. Dicas essas que foram dadas por gestores de carteiras.

Infelizmente, quando se gere uma carteira, os gestores recebem na sua plataforma Reuters todo o tipo de notícias financeiras. É mais fácil olhar para as notícias todas, e ir para uma reunião informado sobre as novidades mais recentes, que usar esse tempo para procurar conteúdo melhor. O próprio artigo aborda o tema das fake news e sensacionalismo, tema esse que está enraizado nos media portugueses. O artigo até fala de blogs de investimento como este, em que critica a forma como o escritor simplifica e depois exagera, entupindo a Internet de artigos sem conteúdo.

O artigo fala, então, das melhores práticas para ter a certeza que a nossa leitura está a ser produtiva.
  • Procurem quem tem a opinião contrária: Não é bom ler apenas quem concorda connosco. Temos também de saber entender o outro lado, de forma a construirmos a nossa opinião da forma mais isenta e racional possível;
  • Questionar a Narrativa: Os jornalistas estão sob constante pressão para lançarem as notícias o mais cedo possível, e existe a possibilidade de existirem erros graves que comprometam a informação;
  • Respeitem os dados: Os dados não mentem, mas os comentários podem ocultar a parte dos dados que não convém divulgar. É por isso que deveremos respeitar a matemática, que é sempre isenta;
  • Evitem jornalistas partidários: A agenda política pode-se sobrepor à informação real e isenta. Temos de ter muito cuidado ao confiar na informação de um jornalista com partido, dado que o mesmo pode favorecer um partido a outro (exemplo do José Gomes Ferreira que "adora" as políticas do PSD);
  • Artigos científicos: É muito importante ler vários artigos científicos sobre o mesmo tema. Normalmente os artigos científicos são isentos, mas diferentes amostras podem conduzir a conclusões e resultados completamente diferentes;
  • Política: Saber os resultados das eleições e saber os partidos que entram no governo é muito importante. Existem gestores de carteiras que usam essa informação para ter um avanço relativamente aos outros, dado que o governo é quem comanda a economia;
O artigo termina com alguns websites mais interessantes que, de acordo com a opinião do leitor, deverá seguir aqueles que gostar mais. Estes websites não só poupam tempo como também nos poderá ajudar a fazer decisões de investimento mais racionais no futuro.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Estará a Gestão Ativa condenada?

O aumento do interesse por parte dos investidores leva-me a falar sobre este assunto mais vezes no futuro, mas antes tenho de fazer uma introdução sobre a Gestão Ativa nos dias de hoje.

A Gestão Ativa nos dias de hoje:

A Gestão Ativa tem como premissa bater um determinado índice. O Alfa (indicador já visto no outro post sobre a leitura de fundos de investimento) é o indicador que mais interessa para o gestor Ativo. Existe um interesse muito grande em ter um Alfa positivo, pois isso traduz-se que o Gestor Ativo conseguiu ter um retorno superior ao retorno do índice.

No entanto, ter um Alfa positivo está cada vez a ser mais difícil. Em 1997 existiam 7355 acções americanas. Hoje em dia existem menos de 3600. A dificuldade acrescida em fazer um IPO (Initial Public offering), o aumento de Business Angels e as OPA (Oferta Pública de Aquisição) a algumas empresas está a diminuir a oferta de acções a negociar todos os dias.
Para além de tudo o que já foi dito, ainda existe o facto dos fundos de gestão passiva não conseguirem bater o índice, quando contabilizarmos o risco acrescido e as comissões cobradas.

A Oferta da Gestão Passiva:

Os ETF's e outros produtos de Gestão Passiva estão a inundar o mercado. Sem promessas de bater o índice, e com a garantia de custos baixos, muitos investidores estão a virar-se para este tipo de produtos.
Em 2016 os investidores retiraram cerca de $285,2 mil milhões dos fundos de gestão ativa e compraram $428,7 mil milhões de fundos de gestão passiva.

Notas Finais:

A Gestão Passiva veio para ficar. Os investidores estão cada vez mais inteligentes e começam-se a aperceber que a gestão passiva é a melhor forma de gerirem os seus portefólios.
Podemos, no entanto, observar que existem mais fundos de gestão passiva que acções. Teremos de esperar pelo próximo crash para vermos que impacto esta gigante oferta de fundos de gestão passiva tem no mercado.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

25 Anos de Recuperação do Mercado?

No último dia de Novembro decido recuperar um mito que aparece quando o mercado está a descer. Com a descida do mercado o medo dos investidores começa a subir proporcionalmente, com alguns cépticos a lembrarem-se dos 25 anos de recuperação na crise de 1929. Mas será isto verdade?

Este gráfico, retirado do histórico do DJIA (Dow Jones Industrial Average) revela que realmente demorou 25 anos para este índice voltar aos preços de 1929. A crise de 1929 e outros eventos macroeconómicos gerou o pânico nos investidores, mas vamos ver os dados para ver se é mesmo verdade.
O próprio New York Times dissecou os dados para nos dar a realidade. Afinal não demorou 25 anos, mas sim pouco mais de 4 anos para o mercado recuperar. Este artigo indica que, um investidor que entrou no mercado em 1929 recuperou o seu capital pouco depois de 1936, ou seja, menos de 4 anos e meio do crash. Houve factos que os cépticos decidiram ocultar. Como? Isso é o que vamos ver.

Deflação

A deflação ocorre quando os preços de um determinado conjunto de bens desce com o tempo. Como os preços descem o nosso dinheiro vale mais. Os consumidores estão habituados à inflação, que é precisamente o oposto.
A grande depressão de 1929 causou que os preços diminuíssem com o passar do tempo. De 1929 a 1936 verificou-se que os preços baixaram mais de 18%!

Dividendos

Os dividendos foram bastante elevados durante a década de 1930. Com o DJIA a valer 41,22$, as empresas davam um dividendo de 14%. Se o investidor reinvestisse estes dividendos, o período de recuperação teria sido muito mais rápido. Como é óbvio os dividendos não foram considerados no período de recuperação do índice.

DJIA vs. o Mercado

Muitos economistas consideram o mercado como um todo na sua análise. O índice DJIA apresenta muitas limitações, infelizmente. Uma das maiores limitações é o facto deste índice considerar os preços e não a capitalização de mercado das acções dentro do índice. Essa limitação traz consequências, como a retirada da IBM do índice. A IBM foi uma das acções com o melhor desempenho na década de 1940. Infelizmente o DJIA não a tinha em carteira nessa altura, e o índice não recuperou tanto como poderia ter recuperado, graças a essa retirada.

Notas Finais

Esta informação dada pela Ibbotson Associates (uma divisão da Morningstar) indica que esta recuperação foi muito rápida. Se tivermos em conta que o mercado perdeu 80% do valor no crash de 1929, o período de recuperação foi até bastante generoso para os investidores. Quem não acredita pode ficar de fora, mas é preciso ter em conta que o mercado sempre recuperou dos seus deslizes.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O que é o Formulário W-8BEN?

Não sei se já viram este formulário muito feio em inglês, mas fiquem sabendo que este formulário feio pode trazer muitos benefícios para a vossa carteira de investimentos. Acredito que todos os investidores tenham alguma participação no mercado norte americano. Ter em carteira uma empresa que é mais velha que nós, que nos dá um dividendo interessante e que está presente em todo o mundo é um sonho para muitos investidores.
O Dividend Yield das empresas americanas é muito interessante, como podem ver pela imagem em cima. Para além dos novos investimentos crescerem com a diferença de preços, também temos a possibilidade de receber dividendos! Mas, e os impostos?
Como somos cidadãos Portugueses e as empresas estão sediadas nos EUA, estamos em risco pela dupla tributação internacional. Este palavrão significa que vamos ser tributados na sede da empresa e no país onde residimos.
Assim, qualquer investidor que compre acções da Apple vai ser taxado em 30% nos EUA e volta a ser taxado em 28% assim que o dividendo entra na nossa carteira. Uma taxa de 58% arrasa com o nosso rendimento e objectivos. Nos casos em que os bancos ou brokers não têm um formulário W-8BEN, alguns investidores optam por vender a sua posição antes do dividendo e voltar a comprar depois do dividendo ter sido pago, para não ser arrasado nos seus rendimentos.

Formulário W-8BEN

Mas os governos dos dois países repararam que esta dupla tributação não iria aliciar investidores de investirem tanto nos EUA como em Portugal. Por isso os dois governos assinaram um acordo para evitar a dupla tributação, disponível aqui.
Este acordo de dupla tributação reduziu a taxa que oa EUA cobram pelos dividendos, que passou de 30% para 15%. Ainda assim os Portugueses não se livram de pagar uma taxa local de 28% sobre os dividendos recebidos. Ou seja, no total chegamos a uma carga fiscal de 43%, elevada mas melhor que 58% antes do acordo de dupla tributação.
Nem todos os brokers Portugueses têm este acordo. A DeGiro, o Banco Invest e o Banco Best têm este acordo, que o investidor deve assinar o mais rapidamente possível, caso esteja a pensar em transaccionar títulos Americanos.

Como Evitar os 15% de Tributação

Não é possível com acções, mas com ETF's o caso é diferente. Existem ETF's americanos que reinvestem os dividendos recebidos dos títulos em carteira. Apesar da taxa de gestão ser um pouco mais elevada (0,10% para 0,50%), os dividendos entram para as contas do ETF. Ao compararmos os dois ETF's (o que distribui dividendos com o que acumula) podemos observar que o preço do ETF que não distribui dividendos é maior. Ao vendermos o ETF em carteira somos apenas tributados pela mais valia em Portugal, não sofrendo qualquer imposto nos EUA.